Com nova tarifa dos EUA, exportações da Paraíba estão sob risco; entenda

PARAIBA.COM.BR
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. O aumento da tarifa pode ter impacto direto na economia da Paraíba, já que os EUA são atualmente o principal destino das exportações do Estado.
Em resposta à Trump, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) citou nessa quarta-feira (9) a Lei de Reciprocidade Econômica como forma de retaliação à medida.
Na Paraíba, os produtos como sucos de frutas, calçados e açúcares, que juntos representam a maior parte do que é enviado ao mercado norte-americano. A medida pode afetar desde a indústria local até pequenos produtores paraibanos que integram essa cadeia de exportação.
Entre janeiro e junho de 2025 a Paraíba exportou cerca de US$ 9,8 milhões para os Estados Unidos, de acordo com os dados do sistema Comex Stat, do Governo Federal, o que representa cerca de 12% do total exportado pelo estado no período.
Em 2024, o total exportado pela Paraíba para os Estados Unidos foi de US$ 35,6 milhões, com destaque para o setor de açúcares e melaços, que movimentou mais de US$ 20 milhões.
Por outro lado, as importações da Paraíba vindas dos EUA no período de janeiro a junho de 2025, movimentou mais de US$ 250 milhões, com destaque para o setor energético:
No ano passado, a Paraíba importou US$ 407,1 milhões dos Estados Unidos, sendo US$ 142 milhões só em óleos brutos de petróleo. Esse valor foi menor do que o registrado apenas nos seis primeiros meses de 2025.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicou em seu perfil no Truth Social (sua versão do antigo Twitter) uma carta endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciando uma taxa de 50% “sobre todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas para os Estados Unidos”, que passará a valer em 1º de agosto. A tarifa é adicional às já existentes e representa uma escalada inédita nas tensões comerciais entre os dois países.
De acordo com o documento, a medida é uma resposta às “práticas comerciais desleais” do Brasil e a supostos ataques do país à liberdade de expressão de empresas americanas. Ele critica ainda o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem chama de “líder altamente respeitado” e vítima de uma “caça às bruxas”.
“É uma vergonha internacional”, escreve o presidente norte-americano, referindo-se ao processo que corre contra Bolsonaro sobre a tentativa de golpe de Estado. Para o americano, a postura do Planalto em relação ao ex-presidente contribuiu para sua decisão de impor as tarifas e ordenou o início imediato de uma investigação formal contra o Brasil no âmbito da Seção 301 – mecanismo usado por Washington para apurar práticas comerciais consideradas injustas por parte de outros países.
Trump também acusa o Supremo Tribunal Federal (STF) de violar a liberdade de expressão de cidadãos e empresas americanas ao emitir o que chama de “ordens de censura secretas e ilegais” contra plataformas de mídia social, as ameaçando com “multas e expulsão do mercado de mídia brasileiro”.
No texto, Trump condiciona qualquer eventual revisão da nova política tarifária à abertura do mercado brasileiro e à eliminação de tarifas e barreiras comerciais ao ingresso de produtos americanos no país. Ele também menciona que empresas brasileiras poderiam escapar da tarifa se passassem a produzir diretamente em território norte-americano.
“Por favor, entenda que os 50% são muito menos do que seria necessário para termos igualdade de condições em nosso comércio com seu país”, afirma o presidente, que ainda ameaça retaliar qualquer aumento de tarifas por parte do Brasil. “Se por qualquer razão o senhor decidir aumentar suas tarifas, qualquer que seja o valor escolhido, ele será adicionado aos 50% que cobraremos.”
A nova taxação foi prometida por Trump ainda nesta quarta, quando afirmou que o Brasil “não tem sido bom” para os EUA. Sua defesa pública a Bolsonaro ocorre desde segunda-feira (7), quem, segundo ele, supostamente estaria sendo vítima de perseguição do Judiciário brasileiro.
A atitude do americano fez Lula subir o tom nesta semana, dizendo que que a democracia no Brasil é um assunto apenas do povo brasileiro e que o país não aceitará “interferência ou tutela de quem quer que seja”.
“A defesa da democracia no Brasil é um tema que compete aos brasileiros. Somos um país soberano. Não aceitamos interferência ou tutela de quem quer que seja. Possuímos instituições sólidas e independentes. Ninguém está acima da lei. Sobretudo, os que atentam contra a liberdade e o estado de direito”, publicou o petista, sem citar diretamente o republicano.
Também nesta quarta, o Itamaraty convocou o encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, para prestar esclarecimentos sobre declaração enviada pela embaixada em defesa de Bolsonaro. Ele foi recebido pela embaixadora Maria Luisa Escorel, secretária de América do Norte e Europa do Ministério das Relações Exteriores brasileiro.
“Jair Bolsonaro e sua família têm sido fortes parceiros dos Estados Unidos. A perseguição política contra ele, sua família e seus apoiadores é vergonhosa e desrespeita as tradições democráticas do Brasil. Reforçamos a declaração do presidente Trump. Estamos acompanhando de perto a situação”, afirmou a Embaixada dos Estados Unidos em Brasília em nota divulgada nesta quarta-feira, 9, à imprensa.
Segundo apuração da Band Brasília, a reunião durou cerca de 40 minutos. Escorel manifestou que há uma intromissão indevida norte-americana e que surpreendeu o Brasil os EUA tomarem partido de um fato que diz respeito a soberania nacional, além do fato de Trump e a embaixada terem formas de tomar pé do processo que envolve o ex-presidente. A embaixada americana não quis se manifestar.
*Com Band
Veja a carta na íntegra
9 de julho de 2025
Sua Excelência
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República Federativa do Brasil
Brasília
Conheci e tratei com o ex-Presidente Jair Bolsonaro, e o respeitei muito, assim como a maioria dos outros líderes de países. A forma como o Brasil tem tratado o ex-Presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma Caça às Bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!
Em parte devido aos ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da liberdade de expressão dos americanos (como demonstrado recentemente pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com multas de milhões de dólares e expulsão do mercado de mídia social brasileiro), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas para os Estados Unidos, separada de todas as tarifas setoriais existentes. Mercadorias transbordadas para tentar evitar essa tarifa de 50% estarão sujeitas a essa tarifa mais alta.
Além disso, tivemos anos para discutir nosso relacionamento comercial com o Brasil e concluímos que precisamos nos afastar da longa e muito injusta relação comercial gerada pelas tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil. Nosso relacionamento, infelizmente, tem estado longe de ser recíproco.
Por favor, entenda que os 50% são muito menos do que seria necessário para termos igualdade de condições em nosso comércio com seu país. E é necessário ter isso para corrigir as graves injustiças do sistema atual. Como o senhor sabe, não haverá tarifa se o Brasil, ou empresas dentro do seu país, decidirem construir ou fabricar produtos dentro dos Estados Unidos e, de fato, faremos tudo o possível para aprovar rapidamente, de forma profissional e rotineira — em outras palavras, em questão de semanas.
Se por qualquer razão o senhor decidir aumentar suas tarifas, qualquer que seja o valor escolhido, ele será adicionado aos 50% que cobraremos. Por favor, entenda que essas tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil, que causaram esses déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos. Esse déficit é uma grande ameaça à nossa economia e, de fato, à nossa segurança nacional!
Além disso, devido aos ataques contínuos do Brasil às atividades comerciais digitais de empresas americanas, bem como outras práticas comerciais desleais, estou instruindo o Representante de Comércio dos Estados Unidos, Jamieson Greer, a iniciar imediatamente uma investigação da Seção 301 sobre o Brasil.
Se o senhor desejar abrir seus mercados comerciais, até agora fechados, para os Estados Unidos e eliminar suas tarifas, políticas não tarifárias e barreiras comerciais, nós poderemos, talvez, considerar um ajuste nesta carta. Essas tarifas podem ser modificadas, para cima ou para baixo, dependendo do relacionamento com seu país. O senhor nunca ficará decepcionado com os Estados Unidos da América.
Muito obrigado por sua atenção a este assunto!
Com os melhores votos, sou,
Atenciosamente,
DONALD J. TRUMP
PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA