General Heleno nega atuação com cúpula militar para planejar golpe

CONGRESSO EM FOCO
Em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Atos Golpistas nesta terça-feira (26), o general da reserva Augusto Heleno afirmou que “não tem condições de prestar esclarecimentos” acerca dos acontecimentos de 8 de janeiro de 2023 porque foi exonerado do cargo de ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no dia 31/12/22. Heleno frisou que jamais organizou reuniões com finalidades políticas junto ao subordinados e com militares e que, ao contrário do que a imprensa divulgou, “o DNA bolsonarista do general” não permaneceu no órgão de segurança.
Augusto Heleno disse que houve três reuniões de transição de governo para que as informações do GSI fossem transmitidas “com transparência” ao General Gonçalves Dias, que assumiu o órgão no início da gestão Lula. Em uma das reuniões, Aloizio Mercadante, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento e Social (BNDES), esteve presente.
O general também afirmou que jamais esteve no acampamento em frente ao Exército, localizado em Brasília, de onde partiram os manifestantes no dia 8 de janeiro.
O general também procurou se distanciar dos protestos que ocorreram em Brasília no dia 12 de dezembro e do atentado à bomba nas imediações do aeroporto da Capital Federal na véspera de Natal do ano passado, ao alegar que o GSI não tinha qualquer responsabilidade de investigação ou repressão dos eventos.
A relatora Eliziane Gama (PSD-MA) questionou o general sobre um relatório da Polícia Federal que registra uma conversa entre Mauro Cid e o coronel Lawand, no dia 21 de novembro de 2022. O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro afirmou a Lawand que o general Heleno esteve com Bolsonaro na data. Lawand questiona se o então ministro do GSI “cumpriu o que faria”.
A senadora perguntou ao depoente se a reunião tratou do planejamento de um golpe de estado e Heleno alegou não lembrar da ocasião, pois se reunia com o ex-presidente diariamente.
Eliziane então pontuou que há registros da Presidência da República que mostram que a reunião ocorreu entre Jair Bolsonaro, general Heleno, o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira, o subchefe de Assuntos Jurídicos Renato de Lima França e Ciro Nogueira, então ministro-chefe da Casa Civil.
24 de dezembro e a reunião da cúpula
A relatora direcionou questionamentos sobre a data de 24 de dezembro de 2022. Ela citou informações citadas pela imprensa sobre a delação premiada ainda em andamento de Mauro Cid à Polícia Federal.
O ex-ajudante de ordens teria dito que na data houve uma reunião no Palácio do Planalto em que participaram o ex-presidente e chefes das Forças Armadas, sendo eles: o chefe de Aeronáutica, Brigadeiro Batista, o almirante Garnier, chefe da Marinha, e o chefe do Exército Freire Gomes com a presença de Cid e outras representações. O intuito seria planejar o golpe de estado.
Heleno negou conhecimento das reuniões e enfatizou que Bolsonaro sempre agiu dentro “das quatro linhas da Constituição”. O militar então acrescentou que nos últimos meses ocorreu a supervalorização do papel de auxiliares de ordem, cujo limite de atuação é estreito, e a troca de mensagens de um deles não significa “absolutamente nada”.
“Uma conversa entre Ailton Barros [militar envolvido na adulteração de cartões de vacinação] e Cid não vai arrastar uma multidão de generais para dar um golpe. Isso é desconhecimento de como funciona a hierarquia das Forças Armadas”, disse Heleno, ao se apartar de eventos classificados como cruciais para os eventos do 8 de janeiro e negar qualquer conhecimento, inclusive, sobre a minuta golpista encontrada na residência do ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres.