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Walter Cascão, a história do paraibano que ensinou Jiu Jitsu à Força Aérea dos EUA

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A cena de um conhecido levando uma cadeirada na cabeça durante uma briga no pré-carnaval de João Pessoa foi o gatilho para Walter Fontes Vital Júnior dar, pela primeira vez, atenção à palavra Jiu Jitsu. Ele ouviu do amigo de infância, Mário Sukata, um dos mais consagrados lutadores da história do Vale Tudo e que já treinava na época, a afirmação: “Se ele lutasse Jiu Jitsu não teria levado a cadeirada”.

Incrédulo, foi desafiado a dar uma cadeirada no próprio Sukata. “Antes que eu pudesse levantar a cadeira, ele (Sucata) já tinha me derrubado com cadeira e tudo e estava em cima de mim completamente no controle”, contou Walter, que tinha estava perto de completar 16 anos.

Hoje, mais de 30 anos após esta cena, de sua residência em Las Vegas, o pessoense Walter “Cascão” (foto ao lado), três vezes campeão mundial de Jiu Jitsu, narra com orgulho a jornada de como um paraibano chegou a treinador de militares integrantes das forças especiais da Força Aérea dos Estados Unidos, uma das mais poderosas do mundo, e referência no treinamento de policiais norte-americanos.

O apelido veio ainda dos amigos de João Pessoa, ainda na década de 90. Ele conta que os pais eram contrários ao seu início no Jiu Jitsu e, por isso, não ajudavam. Como os quimonos eram caros, ele só tinha um e, mesmo assim, demorava para lavá-lo, algo que também tinha um custo. “Os amigos apelavam para que eu colocasse o quimono para lavar e eu sempre prometia que faria, mas não tinha dinheiro para fazer isso direto”, contou Walter.

Para virar Walter Cascão, foi rápido.

Depois adotou o nome com oficial e hoje dá trabalho aos americanos que são obrigados a pronunciá-lo. “Nunca acertam”, diz Walter, brincando com a dificuldade dos alunos em reproduzir o som nasal.

Não acertam. Mas respeitam. Walter Cascão deu aulas de Jiu Jitsu “brasileiro” à Polícia de Las Vegas por mais de dez anos. É o queridinho da North Las Vegas Police Departament (foto ao lado). Ostenta dezenas de títulos internacionais. Foi campeão mundial três vezes, sendo o primeiro deles em 2007, como faixa preta peso médio. Antes disso, havia sido campeão panamericano em 2006 e terceiro colocado no panamericano em 2005.

Em 2016, por intermédio de alunos, recebeu a proposta de treinar integrantes das Forças Armadas Norte Americana. Homens e mulheres das forças especiais da Base da Força Aérea de Nellis, o setor das Forças Armadas dos Estados Unidos responsável pelo controle de todos os drones usados pelos militares norte americanos, a Nellis Air Force Base, em Nevada (foto ao lado).

“Deu uma certa insegurança no começo porque uma coisa é você treinar civis e até policiais. Mas militares das Forças Armadas não são pessoas comuns. Se você topar correr com eles num deserto, tenha certeza de que você vai ficar para trás. Mas na primeira aula percebi que eu estava realmente preparado para dar o que eles queriam”, declarou Walter Cascão. Ficou lá por quase cinco anos, e só deixou em 2020, quando começou a pandemia da Covid.

Hoje, ele se orgulha de ver que como o Jiu Jitsu, que é uma luta de origem japonesa, mas que ganhou seu estilo mais característico no Brasil em razão da família Gracie, é reconhecido nos Estados Unidos. Segundo ele, a confiança no poder do Jiu Jitsu para integrantes de forças de segurança é tão grande que alguns departamentos de polícia nos Estados Unidos colocam como requisito para admissão a obrigatoriedade do aspirante a policial ser, ao menos, faixa azul nesta arte marcial.

“O Jiu Jitsu mudou muito ao longo desse tempo todo”, resume, comemorando a mudança do conceito da modalidade. Ele lembra que deixou o Brasil em 2004 exatamente porque não conseguia viver do esporte, apesar de, na época, já ter conquistado títulos nacionais e ganhar dinheiro como professor de Jiu Jitsu. “Eu não conseguia pagar sequer minha faculdade de Educação Física e tinha que pedir, com quase 30 anos de idade dinheiro para minha mãe”, disse.

Foi, por isso, que no primeiro convite que um primo fez para ir morar em Las Vegas, Walter disse “yes” e dias depois estava desembarcando na cidade dos cassinos mais visitada do mundo.

O primeiro trabalho do lutador foi instalando cortinas em hotéis. Mas no primeiro torneio de Jiu Jitsu que participava nos finais de semana as janelas já se abriram para ele. Foi na Califórnia. Ele empatou numa luta com Rafael Lovato, que já era um competidor com alto desempenho na época. E o pessoal perguntou “Who is the guy?”.

Walter nunca teria como esquecer por que viu seu ídolo maior, Rickson Gracie (foto acima), herdeiro da família do Jiu Jitsu mais famosa do mundo, ir até ele e elogiá-lo. “Gostei muito do jeito que você lutou. Quem foi teu professor?”, perguntou o mestre.

Walter relata que não ganhou aquela competição, mas não poderia ter saído de lá mais estimulado.

Atualmente, ele administra sua própria academia, a Cascão Jiu Jitsu, que você pode encontrar franquias em Oregon, no Havaí em mais uma dezena de pontos nos Estados Unidos.

Casado, pai de Nina, sua filha que já nasceu nos Estados Unidos, seis anos depois de sua chegada, Walter Cascão, que tem cidadania americana, deve vir em julho para João Pessoa.

Caso você encontre com ele, no Mar do Macaco, em Intermares, onde costumava surfar, pode bater continência. O cara ensinou a militares de um dos países mais poderosos do mundo a mobilizar o inimigo em questão de segundos.




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